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Brasil é um país de idosos sem geriatras, este é um desafio para o presente e o futuro

Geriatria é a especialização da medicina que cuida dos idosos e ajuda a promover um envelhecimento saudável.

O Brasil está envelhecendo. Entretanto, enquanto o número de pessoas cada vez mais idosas cresce exponencialmente, a infraestrutura de saúde e os recursos humanos não acompanham essa transição. Entre os diversos desafios, destaca-se a escassez de geriatras.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), há cerca de 2 mil geriatras registrados no Brasil, o que equivale a apenas um especialista para cada 18 mil idosos. Ou seja, o país enfrenta um déficit de 28.000 geriatras, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Essa desigualdade no acesso ao atendimento especializado torna-se ainda mais grave em regiões remotas e periféricas, onde a presença desses profissionais é quase inexistente. Esse cenário exige ações urgentes para garantir o envelhecimento digno e saudável dessa população.

Desafios crescentes

A última etapa da vida, especialmente a velhice avançada, está associada ao aumento da prevalência de doenças crônicas, dependência funcional e fragilidade física e cognitiva. Esses fatores tornam o cuidado à pessoa idosa uma tarefa complexa, que vai além de intervenções curativas, exigindo uma abordagem multidisciplinar e centrada na pessoa. Entre os principais desafios estão:

1 – Polifarmácia e seus riscos

A polifarmácia, definida como o uso simultâneo de cinco ou mais medicamentos, é uma realidade para cerca de 40% das pessoas idosas brasileiras. Esse uso excessivo, muitas vezes sem monitoramento adequado, aumenta o risco de interações medicamentosas, reações adversas e internações hospitalares. Estudos apontam que eventos relacionados a medicamentos são uma das principais causas evitáveis de complicações e óbitos entre pessoas idosas.

2 – Diagnóstico e manejo tardios

Doenças como Alzheimer, diabetes, hipertensão e osteoporose, são frequentemente diagnosticadas tardiamente, dificultando o manejo e comprometendo a qualidade de vida. A falta de acompanhamento especializado contribui para o agravamento dessas condições, levando ao aumento de dependência e custos ao sistema de saúde.

3 – Desigualdade no acesso ao cuidado

A concentração de geriatras nos grandes centros urbanos deixa populações de áreas rurais e periféricas sem acesso a um atendimento especializado. Essa desigualdade regional força muitas pessoas idosas a buscar atendimento básico, que, geralmente, não é preparado para lidar com a complexidade do cuidado geriátrico.

A escassez de geriatras no Brasil

A falta de geriatras no Brasil é fruto de vários fatores, entre eles destaca-se:

a) Baixa atratividade da especialidade: muitos médicos consideram a geriatria menos lucrativa e valorizada em comparação com outras especialidades.

b) Falta de políticas de incentivo: há poucos programas que ofereçam benefícios para médicos que optem por trabalhar em geriatria, especialmente em áreas remotas.

c) Cultura de desvalorização do envelhecimento: O cuidado à pessoa idosa ainda é associado a gastos e limitações, ao invés de ser visto como um investimento em qualidade de vida e saúde pública.

Essa lacuna é um reflexo de um sistema de saúde que, historicamente, priorizou cuidados voltados para a população jovem e para doenças agudas, negligenciando o planejamento para o envelhecimento populacional.

Caminhos para uma solução

Embora a formação de mais geriatras seja essencial, o cuidado à pessoa idosa não depende exclusivamente desses profissionais. É possível criar uma rede de atendimento eficiente por meio do trabalho multiprofissional, integrando diversas áreas da saúde. Algumas soluções incluem:

1 – Equipes multiprofissionais

Uma equipe multiprofissional voltada ao atendimento de pessoas idosas deve ser composta por profissionais de diversas áreas do cuidado, da saúde e do suporte social, capazes de abordar a complexidade e a diversidade que marcam o processo de envelhecimento. Os principais integrantes dessa equipe — que pode variar conforme o contexto (atenção básica, hospitalar, domiciliar, institucional, etc.) podem ser: Geriatra; Enfermeiro/a com formação em Geriatria e Gerontologia; Fisioterapeuta; Terapeuta Ocupacional; Nutricionista; Psicólogo/a; Assistente Social; Fonoaudiólogo/a; Educador/a Físico/a com formação em envelhecimento; Gerontólogo/a; Odontogeriatras; Farmacêutico/a clínico/a; Cuidadores (formais ou informais), entre outros.

Essa equipe deve atuar de forma integrada, interdisciplinar e centrada na pessoa idosa, respeitando seus valores, preferências e contextos de vida. A comunicação entre os profissionais é essencial para construir planos de cuidado coerentes, éticos e eficazes.

2 – Telemedicina e tecnologias de monitoramento

A telemedicina pode conectar geriatras e outros profissionais da saúde a pessoas idosas que vivem em áreas remotas, democratizando o acesso ao atendimento. Além disso, tecnologias como aplicativos e dispositivos de monitoramento remoto podem auxiliar no controle de doenças crônicas e na adesão ao tratamento.

3 – Educação e prevenção desde cedo

Investir na conscientização da população sobre o envelhecimento saudável é essencial. Medidas simples, como a adoção de hábitos saudáveis (exercício físico, dieta equilibrada, controle de estresse), podem retardar o surgimento de doenças crônicas.

4 – Políticas públicas específicas

Iniciativas como o incentivo à formação de geriatras e a criação de centros de cuidado integral para pessoas idosas são fundamentais. Além disso, campanhas nacionais para a valorização do envelhecimento ativo podem mudar como a sociedade enxerga essa etapa da vida.

Conclusão

O Brasil vive um paradoxo: ao mesmo tempo, em que o envelhecimento populacional avança, a saúde pública enfrenta desafios estruturais para atender às necessidades das pessoas idosas. A escassez de geriatras reflete uma lacuna que vai além da formação de especialistas – ela aponta para a necessidade de uma reorganização completa do sistema de saúde.

O fortalecimento do trabalho multiprofissional, o uso de tecnologias, o incentivo à formação de especialistas e a criação de políticas públicas eficazes são passos cruciais para garantir que o envelhecimento seja encarado não como um problema, mas como uma fase natural da vida que pode ser vivida com qualidade e dignidade.

Investir no cuidado a pessoas idosas não é apenas um dever moral, mas também uma oportunidade de promover saúde pública eficiente, reduzir custos e melhorar a qualidade de vida de milhões de brasileiros e brasileiras. O futuro depende das ações que tomarmos hoje.

Fonte – Portal do Envelhecimento

Foto – Tima Miroshnichenko/pexels.

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