As cozinhas são redesenhadas não somente para acrescentar equipamentos mais compactos, mas para se tornarem lugares aprazíveis para serem utilizados socialmente.

A moradia tem sido representada como o lugar onde são reconhecidos a permanência, o pertencimento e a cidadania, sendo ainda importante o sentimento de segurança ao garantir a privacidade e a proteção dos bens materiais. Não basta uma unidade habitacional confortável, é importante o relacionamento com o bairro onde vivem vizinhos e encontra-se o comércio de primeiras necessidades. E, mais do que isso, há as possibilidades de trabalho, lazer e acesso à saúde, que impulsionam aos deslocamentos pela cidade.

Esse cenário está em transformação, em especial em função das soluções digitais, dos teleatendimentos e das facilidades oferecidas nos condomínios. De acordo com Gustavo Zanotto, executivo do mercado imobiliário, os espaços da vida privada passaram a incorporar novas necessidades e outras tornaram-se ociosas. Sugere que a moradia, hoje, é um canal de consumo, deixando de ser o “sonho da casa própria” para transformar-se em um polo dinâmico e em constante transformação. Para ele, o lar não é mais apenas um lugar para dormir e guardar coisas. Ele se transformou em um shopping, um hotel e, mais do que isso, numa plataforma de experiências, conveniência e estilo de vida.

Compras por aplicativos

Pedir comida via aplicativos transformou-se em um hábito que torna práticos os momentos de refeição, diminuindo o tempo de espera e aumentando as possibilidades de cardápio, mas reduzindo principalmente a necessidade de espaço para insumos na armazenagem de produtos alimentícios e de áreas de preparo. Assim, as cozinhas são redesenhadas não somente para acrescentar equipamentos mais compactos, mas para se tornarem lugares aprazíveis para serem utilizados socialmente.

Ser proprietário de um automóvel pessoal ou da família já é discutível. A solicitação de carros por aplicativos atende amplamente as diversas necessidades de transporte, e por razões diversas. Primeiro, exceto se o carro seja um instrumento de trabalho, sua utilidade é relativa se o acesso aos destinos rotineiros oferece outras alternativas. Em segundo lugar, o custo de manutenção pode não compensar a propriedade e questões econômicas já são decisões significativas, até considerando custo de estacionamentos e impostos. Por outro lado, beber e dirigir são decisões que não combinam e, portanto, opções de lazer ficam limitadas se houver confraternizações com bebidas alcoólicas. Portanto, vagas de garagem já não são tão importantes.

E quem nunca comprou medicamentos, presentes ou utilidades mediante aplicativos? Farmácias oferecem entregas rápidas nas emergências e magazines com lojas físicas perceberam que as virtuais chegaram para ficar. Tele-entregas de flores e chocolates presenteiam pessoas queridas rapidamente, até porque os bancos são cada vez mais virtuais e o PIX, no Brasil, agilizou ainda mais as transações financeiras. Comparar preços ficou mais fácil quando a busca utiliza aplicativos e apresenta soluções variadas, até diferenciadas. As portarias de edifícios residenciais tornaram-se depósitos temporários de caixas e pacotes de diversos tamanhos e, portanto, são dimensionadas para serem entrepostos de encomendas que chegam todos os dias.

Casa conectada

Desde a pandemia, o home office tornou-se uma prática interessante para muitos, visto que as videoconferências em plataformas diversas resolveram a necessidade de reuniões, apresentações e aulas. Ambientes antes adaptados foram expandidos e aperfeiçoados, com cuidados relativos à condição acústica, luminosa e ergonômica. As pequenas escrivaninhas nos dormitórios cresceram e ocuparam as salas ou outros quartos, com a adoção de cadeiras adequadas para longas permanências.

Atividades físicas com supervisão à distância também foram disseminadas a partir do distanciamento social imposto pela situação da Covid-19. Mas é preciso pensar no espaço necessário para realização de movimentos de ioga, Pilates e ginástica, assim como guardar os equipamentos utilizados nas aulas. Também um monitor com câmera adequada, posicionado de modo a permitir uma boa visualização de aluno e professor.

E como não falar no crescimento da telemedicina? Não basta um monitor que separe o profissional de saúde do consultante, pois são necessários equipamentos mínimos para uma anamnese que forneça informações importantes para uma boa consulta. Outros cuidados são essenciais: um ambiente harmônico, sem interferências desnecessárias, a possibilidade de avaliação de corpo inteiro em determinados casos e, portanto, uma distância do monitor que não comprometa som e imagem, além de luz suficiente.

O uso de dispositivos de voz, com Siri ou Alexa, possibilita lembretes para compromissos e compras, estabelecendo ambiências agradáveis com música, informações e programas culturais. A automação residencial, com controle por voz para luz e TV, além de outros equipamentos para manutenção do clima e limpeza, permite que haja conforto ambiental para uma ambiência agradável. Portanto, a eletricidade da casa precisa ter capacidade para alimentar todo o sistema e garantir o funcionamento adequado.

Condomínios com amenidades

Os lançamentos imobiliários residenciais têm sido oferecidos com diversos diferenciais, efetivamente com soluções que apresentam espaços mais compactos, mas mais práticos. A funcionalidade está relacionada a soluções tecnológicas, mas também a diferentes programas em áreas coletivas, oferecendo espaços de lazer, trabalho com coworking, de bem-estar e de atividade física. A proposta inovadora de adequação de grandes condomínios tem interessado os moradores para novas necessidades, desde espaços para reuniões ou gravação de podcasts até salas adequadas para atividades de bem-estar.

É possível conhecer esta experiência no condomínio Unlimited Ocean Front, em Santos-SP, proposta pela arq. Mariana Mie Chao. Seus conhecimentos em Gerontologia levaram a propor mudanças significativas nas salas de amenidades oferecidas originalmente, tornando aquela comunidade de condôminos e frequentadores melhor amparada com ambientes resolutivos e acolhedores.

Tem crescido, também, a adoção de pequenos mercados de autosserviço instalados no térreo de condomínios, facilitando a complementação de insumos básicos ou de necessidades de última hora, sem sair de casa ou com espera por entregas. Essa solução evita sair por pequenas compras ou pedir entregas de poucos produtos, sendo prática e acessível para todos os moradores.

Mudanças de comportamento implicam em novos ambientes ou na reformulação de outros que já não atendem aos objetivos de rotinas contemporâneas, para que se mantenham funcionais e confortáveis. Portanto, permanecer com ambientes mal utilizados ou injustificados é negar as dinâmicas da sociedade… estamos atentos a isso?

Fonte – Portal do Envelhecimento

Foto – Kelly/pexels.