O impacto das cooperativas de crédito na economia local

Dando continuidade às discussões do evento O impacto do cooperativismo no desenvolvimento do Brasil e o apoio do BNDES, realizado pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e sediado pelo BNDES em abril de 2025, conversamos com o economista e pesquisador Alison Pablo de Oliveira sobre o potencial do cooperativismo no Brasil. Leia a seguir a entrevista.

Como é a distribuição territorial dos cooperados no Brasil hoje?

Atualmente, de acordo com dados do Anuário do Cooperativismo de 2024, o Brasil conta com 4.509 cooperativas, sendo 700 delas do ramo de crédito. Essas cooperativas estão presentes em 1.398 municípios, com maior concentração na região Sudeste (1.605), seguida pelas regiões Nordeste (856) e Sul (825). As regiões Centro-Oeste e Norte possuem 619 e 504 cooperativas, respectivamente.

Em termos de cobertura, as cooperativas de crédito já atendem 57% dos municípios brasileiros, alcançando 17,3 milhões de cooperados. Embora a maior parcela de cooperados ainda esteja nas regiões Sul e Sudeste, percebe-se uma expansão recente significativa do cooperativismo de crédito, principalmente para a região Norte. Quatro estados da região Norte (Acre, Roraima, Pará e Amazonas) estão entre os cinco estados com maior crescimento percentual na quantidade de pessoas cooperadas.

Quais os principais benefícios das cooperativas de crédito para a economia local? Esses benefícios extrapolam a economia? Como?

As cooperativas de crédito oferecem diversos benefícios econômicos às comunidades onde atuam. Os estudos que desenvolvemos aqui na Fipe mostram as cooperativas induzindo o desenvolvimento local: geram emprego, renda, arrecadação e produtividade; mas também diminuem pobreza, fortalecem capital social e melhoram indicadores educacionais. Em vez de apenas intermediar recursos, elas criam círculos virtuosos que integram dimensões econômicas, sociais e institucionais, tornando-se instrumentos-chave de políticas de desenvolvimento regional sustentável.

• Geração de empregos e renda. Ao financiar empresas locais e promover o empreendedorismo, as cooperativas ajudam a criar empregos, incluindo postos de menor qualificação, contribuindo para aumento do emprego e da formalização.

• Fortalecimento do agronegócio: A presença de cooperativas de crédito está associada a um aumento médio de 1,9 ponto percentual na área agrícola municipal, fortalecendo o setor agropecuário. Com aumento de cerca de 23% no valor da produção agrícola por município.

• Redução da pobreza. Em cidades com presença de cooperativas de crédito, observou-se uma redução de 20,5 famílias por mil habitantes no Cadastro Único e de 24,8 famílias por mil habitantes no Programa Bolsa Família, indicando uma diminuição significativa da pobreza.

• Aumento de matrículas e concluintes no ensino superior. Aumento de +3,2 matrículas por mil habitantes no ensino superior e de +0,2 concluintes por mil habitantes.

As cooperativas de crédito conseguem ter papel relevante nos momentos de crise? Qual seu papel no sistema financeiro hoje?

As cooperativas de crédito têm se mostrado especialmente resilientes em períodos de crise econômica, mantendo estável a oferta de crédito justamente quando as instituições financeiras tradicionais tendem a retrair empréstimos. Essa manutenção do crédito garante apoio contínuo a pequenos negócios e comunidades locais, contribuindo diretamente para a recuperação econômica. Um exemplo concreto da resiliência das cooperativas de créditos em momentos de crise foram observados durante a pandemia da Covid-19, quanto em 2020, a participação dos empregos formais em cooperativas de crédito saltou de 14,6% para 17,7% dos vínculos formais do setor de intermediação monetária, segundo dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho.

Além disso, o modelo cooperativista oferece uma alternativa mais inclusiva e democrática em comparação ao sistema bancário convencional, fortalecendo a estabilidade financeira local e promovendo um desenvolvimento econômico mais sustentável e equitativo. Isso ocorre porque as cooperativas têm uma governança baseada na participação direta dos próprios cooperados, permitindo decisões alinhadas às necessidades reais da comunidade local, e não visando estritamente a lucratividade dos investimentos. A distribuição dos resultados das operações retorna diretamente aos cooperados, potencializando a economia local e potencialmente reduzindo desigualdades. Ademais, por terem proximidade com as comunidades e maior conhecimento das condições regionais, as cooperativas conseguem oferecer crédito sob medida, com taxas e condições mais acessíveis, ampliando a inclusão financeira, especialmente em localidades menos atendidas pelos bancos tradicionais. Esse modelo possibilita maior coesão social, sustentabilidade econômica e resiliência em momentos de crise.

Como as cooperativas podem contribuir no enfrentamento à crise climática?

Embora a contribuição das cooperativas ao enfrentamento da crise climática não tenha sido um foco específico dos estudos que realizamos, é possível afirmar que, pela própria natureza e princípios que orientam o cooperativismo, elas têm grande potencial para desempenhar esse papel. O modelo cooperativista, pautado pela proximidade com as comunidades e compromisso com o desenvolvimento sustentável, favorece o financiamento de iniciativas locais voltadas à sustentabilidade, como projetos de energia limpa, agricultura sustentável e preservação ambiental. Além disso, a estrutura participativa e educativa das cooperativas facilita a conscientização ambiental e o engajamento dos cooperados em ações práticas para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas.

Fonte – Ascom

Foto – Divulgação

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