Turismo em terras indígenas torna visível cultura originária

É necessário não só procurar conhecer previamente a cultura e prática do povo a ser visitado, mas também garantir que o lucro do tour contratado retorne à comunidade.País originalmente ocupado por povos indígenas, o Brasil tem cerca de 1,7 milhão de indígenas autodeclarados de 305 etnias, que representam 0,83% da totalidade de seus habitantes, de acordo com dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consideravelmente isolados, os povos indígenas brasileiros encontram-se exacerbadamente reduzidos em relação à sua totalidade original, perdendo espaços para uma industrialização e serviços agropecuários que os empurram à marginalidade.

Atualmente existem cerca de 7 mil localidades indígenas no Brasil, distribuídas por mais de 800 municípios. Apesar de sua trêmula divisão, comunidades indígenas no Brasil têm cada vez mais decidido abrir suas portas para visitantes, encarando a possibilidade como uma alternativa para renda e reconhecimento de sua cultura e costumes. Para isso, o turismo pode ajudá-los.

Incentivo à cultura

Para o professor Alexandre Panosso e também para Ana Rosa Proença, pós-graduada em Turismo na USP, turismo em territórios indígenas entende-se como toda atividade turística que acontece em terras indígenas, sejam aldeias dentro de unidades de conservação até áreas urbanas e rurais. Entretanto, é necessário que envolvam diretamente lideranças indígenas, grupos de trabalho, organizações e até empresas, que ajudam a planejar e organizar as experiências no território.

Em uma visitação turística a terras indígenas, segundo Eduardo Silva Sant’Anna, doutorando em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, é necessário não só procurar conhecer previamente a cultura e prática do povo a ser visitado, mas também garantir que o lucro do tour contratado retorne à comunidade. “Vale a pena pesquisar um pouco mais sobre a comunidade que você pretende visitar – sua cultura, suas tradições e algumas normas de convivência. E, claro, antes de contratar um tour, pesquise aqueles que sejam conduzidos de forma ética e que não explorem as comunidades sem um retorno justo para elas. O turismo pode ser uma ferramenta incrível para o desenvolvimento local, mas só quando feito da maneira certa”, esclarece.

Choque cultural

Visitas às terras indígenas incentivam o interesse ao conhecimento de saberes indígenas que, infelizmente, é precarizado ou pouco acessado pela população urbana. Nesse novo espaço, povos indígenas ganham a possibilidade da visibilidade, reivindicando por direitos e melhores condições, por exemplo. Entretanto, ao ter-se contato com outra cultura em uma experiência turística é necessário que elementos como respeito e atenção guiem o comportamento do turista.

As culturas são diversas, principalmente em relação à gama cultural presente no Brasil. Assim, choques culturais podem ser comuns, mas devem ser tratados de maneira consciente. “Cada povo tem seus costumes, suas crenças e seus próprios modos de viver. O que pode parecer algo simples para você, pode ter um significado profundo para eles. A regra de ouro é sempre perguntar, escutar e agir com respeito”, enfatiza Silva.

O doutorando também ressalta a importância em receber permissão sobre o que e quando tirar fotos. “Nada de sair tirando fotos sem permissão. Se quiser registrar um momento, pergunte antes. E se a resposta for “não”, respeite. Nem tudo precisa virar post nas redes sociais.”

Fonte – USP

Foto: Reprodução/MAE-USP

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